quinta-feira, 1 de março de 2012

A gente só leva da vida a vida que a gente leva



Todos os dias ao acordar uma nova luta começa. Várias camadas de lutas , rectifico.. A luta contra o sono. 
Depois contra a preguiça. A luta contra a loiça suja do pequeno almoço . Depois a luta contra o trânsito, os apitões, os refilões do passar dos dias que se passeiam carrancudos sem sequer conhecer o significado de um verdadeiro passeio…A luta da contagem dos trocos sempre em falta por uns cêntimos para o parquímetro da esquina perto do restaurante onde vamos almoçar e a luta contra a ansiedade da espera enquanto ele ou ela não chegam e ainda não entendemos bem se levámos ou não uma tampa.

Como se ainda não chegasse, a camada aglomera-se com uma catrefada de colegas que nos tentam fazer a folha, com os sentimentos de frustração… porque afinal ser farmacêutico, contabilista, empregado de escritório ou de um qualquer estabelecimento não condizem com os nossos sonhos e até os que têm a sorte de trabalhar na área que escolheram, cedo percebem que a vida dos seus sonhos estava afinal, na hipótese B, que era aquela mesmo ao lado da A, a que acabaram por escolher…

 A Luta  contra o copo de água que acaba. Quando a sede ainda lá está. De líquido e de vida. E o copo sem gota.  A Luta contra o telefone que não pára de tocar e para ter uma voz que condiga com o som do sorriso, mesmo que forçado, para não parecer antipático.  A Luta contra o próprio corpo. Para não engordar, emperrar ou adoecer. Ele que é matreiro e está à espera de nos fazer sofrer qualquer dor ou incomodo menos esperado.  A Luta para ficar bonito, resplandecente, mesmo que por dentro a luz seja pouca e a alma esteja mais na penumbra do que a brilhar de claridade.

 A Luta para escrever. Que limpa a alma.  A Luta para exercitar a mente,  a de nos obrigar a ter paciência para ouvir alto e bom som a nossa música. É que às vezes esquecemos que isso é bom e imprescindível…Limpar as teias de aranha do intelecto com um bom livro ou dedicar-nos a uma qualquer arte, nem que seja decorativa e de segunda… Uma luta que pode vir a dar tréguas. Esta sim , por fazer bem.  A Luta para manter a sensibilidade num mundo que a suga a cada passo que damos. Luta para continuar a sonhar.
A luta ainda por amigos. Pela família.  A Luta para não esquecer os que já partiram, mantê- los presentes em histórias e pensamentos. Lutar  com eles e não contra eles.  E a luta pela vontade de Dar. Ter bondade, dignidade. Lutar para ajudar na saudade que temos de alguém que já não vem…

Mas a luta continua. Sempre. Luta se para Amar e também para ser Amado. Para não ser esquecido no meio de tantas lutas, seres humanos, problemas, notas de 50 euros e notas de supermercado, agendas por cumprir e sensações a descobrir e a aproveitar. A luta para ter uma Vida, um filho, um tesouro, um objectivo traçado ou a traçar. A luta para ser bom no que fazes e não te desiludires a ti e aos outros.

E é assim que vivemos todos os  dias. Assim de repente parece pesado, mas repensando o assunto, parece me bem que é precisamente esta Luta que não nos deixa dormir à sombra sem pensar que o dia de amanhã está única e exclusivamente nas nossas mãos. Ou se vai à luta… ou se é deixado a bezerrar.  E de bezerros está cada vez mais este mundo cheio. Qualquer dia não existem pastos para eles e alguns já andam mesmo entre nós.. Cuidado!


...A gente só leva da vida a vida que a gente leva ...

1 comentário:

  1. Brutal este texto!!!!
    Queres escrevê-lo na parede de minha casa?...
    Beijo

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